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A loucura está presente nas obras e nas biografias de alguns grandes artistas. Um “prato cheio” para qualquer criador que queira se confrontar com um tema tão instigante e talvez, o mais humano dos dramas. A perda da capacidade de racionalizar, algo impensável na realidade do homem moderno e contemporâneo é quase um passaporte para a morte social. Por isso, o louco é tão associado à prisões, grades, exclusão. Isto ocorre ainda hoje porque a loucura vai além de disfunções psíquicas e neurológicas, é envolta em teias de preconceito, estigmas e medos. Isso desde que o mundo é mundo...
É de se estranhar que em uma cidade como Barbacena, que desde 1903, manteve um dos maiores e mais cruéis hospícios do mundo, o local não tenha sido tema de algum artista que se permitisse tentar imaginar o que ocorria atrás das grades e muralhas erguidas para separar os territórios da lucidez e da loucura.
Mas se faltou um olhar mineiro sobre o tema, coube ao paulista Cândido Portinari, debruçar-se sobre o texto de Machado de Assis, em O Alienista, para realizar uma interessante série de despojados desenhos em água- forte e nankim, retratando a loucura institucionalizada pelo célebre Prof. Aristarco. Conheci esta obra através de um artigo referente à impressão de O Alienista realizada pela Imprensa Nacional em 1948. Segundo a autora, Tatiana Fecchio Gonçalves , pesquisadora da Unicamp, foi realizada uma tiragem de 100 exemplares, em grande formato, com 70 folhas numeradas e mais algumas folhas soltas dentro de capa. Consta na edição que esta foi iniciada em 1945 e acabada em 12 de julho de 1948. No artigo, a Profa. Tatiana arrola detalhes técnicos:
“ Esta edição do O Alienista de Machado de Assis, feita por iniciativa e sob a direção de Raymundo de Castro Maia para fins de beneficência, foi ilustrada por Candido Portinari, com quatro águas-fortes tiradas pelo artista, em colaboração com seu irmão Loy Portinari e trinta e seis desenhos a nankin. O texto e os desenhos foram produzidos e, "off set", na Imprensa nacional , do Rio de janeiro, sendo diretor o Prof. Francisco de Paula Aquilles; chefe da Divisão de Produção, Raul de Oliveira Rodrigues; assessor da Produção, Rubem Pimentel da Motta; chefe de Composição, Tarquinio Antonio Rodrigues; chefe da Gravura, Oswaldo de Assis; chefe de Impressão Lithographica, Oscar Loureiro; técnico em "off set", Silvio Signhorelli.
Para os graficardíacos, reproduzimos um dos desenhos de Portinari em O Alienista.
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